CIDADE DAS LUZES - MICHELLE BARUHM
Ruínas se destacavam em meio a casas perfeitamente iguais. O condomínio da rua Dr. Barroso Júnior era um dos maiores da região. Não se entendia o porquê, mas todos que tentavam demolir o que restava da casa número 139 saíam cegos e calados. As crianças do condomínio apostavam quem tinha coragem de entrar e, suas mães, enlouquecidas, saíam em busca dos filhos aventureiros.
Anne era uma criança diferente das outras. Renegada até mesmo por seus pais, enxergava coisas que passavam despercebidas pelos outros. Certa noite, ela descia a rua quicando sua bola, quando essa escapou de suas mãos, rolando até a porta de número 139.
A menina não sentia medo das histórias que contavam sobre as ruínas, aliás, ela sentia uma certa atração pela áurea sombria que rodeava a casa. Quando a garota se abaixou para pegar sua bola laranja, notou um ser microscópico, que emanava um pouco de luz na escuridão.
Como se fosse engolido pela noite, o pequeno ser desapareceu, e logo depois reapareceu em frente à porta das ruínas da casa 139, como se lhe pedisse para entrar. Sem hesitar, ela empurrou a porta, que abriu com um rangido. A escuridão tomava conta do ambiente decorado com mobília velha.
O pequeno ser reapareceu, pairando sobre uma poltrona empoeirada, iluminando-a com uma luz fraca. O abajur parecia aceso, e logo outro ser luminoso saiu de dentro dele.
Anne resolveu observá-los mais de perto e, com passos surdos e lentos, foi se aproximando, até conseguir pegá-los nas mãos. Ao fazer isso, milhares de outros seres saíram da escuridão, iluminando cada vez mais o ambiente sombrio. A luz foi ficando mais forte, e começou a incomodar os seus olhos.
Os seres começaram a flutuar em seu encontro e, apesar da luminosidade, tudo o que a garota conseguia ver era a escuridão.
Cambaleou até a porta, lágrimas encharcando seu rosto. A menina suspirou e começou a andar em direção a sua casa, quando tropeçou em sua bola e caiu, batendo as costas no chão gelado. Ela gritava por ajuda, mas sua boca não emitia nenhum som. Chorando cada vez mais, a garota abraçou seus joelhos e fechou os olhos, desejando que tudo fosse um sonho.